Pesquisar este blog

19 de abril de 2010

Nem toda espiritualidade faz bem


Encontro com a Vida
por Pr. Paulo Cardoso
Qualquer modo de expressar e viver a espiritualidade que não enxergue o ser humano como um todo acaba se tornando em doença para ele. Porque o homem não é só o seu corpo, nem a sua mente ou sua estrutura psicológica e nem só o seu espírito - ele é um todo.

É aí que uma visão de espiritualidade que não abrace esse todo não pode ser completa; e acaba fragmentando, quebrando, partindo e dividindo, ainda mais, o que já está rachado, partido e quebrado dentro das pessoas.

Por isso, eu diria que a espiritualidade que não faz bem tem algumas características muito claras:

Primeiro, uma espiritualidade que me isola das pessoas não faz bem à alma. Ou, como escreveu Ed René Kivitz: "pessoas precisam de Deus, mas pessoas precisam de pessoas".

Na verdade, não existe espiritualidade sadia que não seja vivida em comunhão com o meu semelhante. Daí que se há algo muito claro, na Bíblia, é que o Evangelho não nos afasta das pessoas; pelo contrário, nos aproxima delas. Não cria mais abismos e muros; os atravessa e transpõe. Evangelho é sinônimo de reconciliação. É a parede de separação vindo abaixo. É Deus fazendo a paz.

Segundo, qualquer espiritualidade que veja a realidade dividida, apenas, entre Deus e o maligno, adoece a alma.

Há muitas pessoas que vêem tudo nas seguintes categorias: ou foi Deus ou foi o inimigo. Mas, o fato é que existe o que é divino; existe o que é maligno; mas, existe o que é, simplesmente, humano, físico, natural e terreno.

Terceiro, qualquer espiritualidade que se alimenta da culpa e do medo faz muito mal à vida. Porque o perfeito amor lança fora o medo, e quem teme não foi aperfeiçoado no amor.

A culpa e o medo só alimentam os manipuladores. Porque não há modo mais fácil de controlar e manipular uma pessoa do que através da culpa e do medo. É aí que o Evangelho de Jesus vem e nos liberta de ambos. Ele vem e me faz entender que Deus estava em Cristo reconciliando consigo os homens; não lhes imputando os seus pecados, e nos confiou a palavra da reconciliação.

Quarto, qualquer espiritualidade onde Deus é apenas um meio para alcançarmos algum outro fim, adoece profundamente o ser.

A verdade é que Deus é o fim. Ele é a finalidade. Ele é a razão de ser. Ele é o motivo. Porque nós fomos criados por Ele e para Ele. Daí que espiritualidade que faça de Deus um meio para alcançarmos nossos objetivos pessoais é uma espiritualidade corrompida. É claro que todos nós queremos e precisamos muito ser abençoados por Deus, mas nós não o buscamos, simplesmente, pelo que Ele pode fazer por nós; nós o buscamos por quem Ele é.

Quinto, toda espiritualidade que perde o contato com a realidade acaba se tornando doentia.

Porque o objetivo de Deus é que nós vivamos. E a vida com Deus se vive na história dos homens. Eu sou cidadão do céu, mas eu ainda estou vivendo na terra. E eu preciso me relacionar com ela. É por isso que eu tenho a minha mente nas coisas do alto, mas eu continuo com os meus pés na terra. Eu continuo sendo humano e me relacionando com as realidades desta vida, de um modo normal, natural e sadio. Ninguém viveu isso de um modo mais forte que o próprio Jesus. Ele era totalmente divino e totalmente humano.

Sexto, uma espiritualidade que não se permite viver a normalidade do ser gente e que "espiritualiza" o que é não é para ser espiritualizado, só produz doenças na alma.

Basta olhar quantas pessoas que a si mesmas se consideram "espirituais" são doentes afetivamente e emocionalmente. Elas esqueceram que são gente. Esqueceram que foi Deus quem as fez humanas com tudo que isso envolve. Esqueceram que ser integralmente humano é ser quem nos criou para ser. Daí que elas se reprimem tanto, que, quando tudo que está latejando lá dentro, finalmente, vem à tona; vem da forma mais doente e adoecedora possível - o que não aconteceria se elas lidassem com sua humanidade de um modo natural e sadio. É óbvio que todos nós temos nossas dificuldades e conflitos. Mas, quanto mais olharmos para tudo isso com naturalidade e realismo, mais chance temos de viver em paz.

Sétimo, nenhuma espiritualidade "em série" vai fazer bem à alma humana.

Com isso eu me refiro àquela "espiritualidade" que fabrica "soldadinhos de chumbo" de uma idéia, de um modelo, de uma visão ou de um movimento. Uma "espiritualidade" empresarial, onde a única coisa que importa é cumprir metas, atingir alvos, obter resultados e mostrar sucesso. Isso faz muito mal à alma da gente.

Só que o andar com Jesus é extremamente livre. Livre como o vento, que sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem e nem para onde vai. Jesus disse que assim é todo aquele que é nascido do Espírito. Livre. Autêntico. Espontâneo. Leve.

Daí que a espiritualidade, para ser sadia, precisa ter Jesus como modelo e alvo. Precisa se espelhar nEle. Precisa parecer com Ele. Porque Ele é o objetivo de tudo. E, para falar a verdade, ninguém foi mais sadio que Ele. De fato, ninguém, nem mesmo, foi tão sadio como Ele. Ele é o nosso Mestre por excelência e nós somos Seus discípulos.

Uma espiritualidade sadia faz bem à alma. Enriquece a vida com valores mais belos. Torna o coração mais misericordioso. Enche a vida com mais significado. Abre os olhos para aquilo que não se via antes. Ilumina o caminho. Reconcilia com Deus. Liberta das culpas. Transborda para os outros.

Minha oração é que possamos viver uma espiritualidade sadia e bonita para a glória de Deus e para que o mundo creia no poder do Seu amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário